O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse, no pedido de abertura de inquérito enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o presidente Michel Temer (PMDB) e o senador Aécio Neves (PSDB) agiram para tentar impedir as investigações da Lava Jato. Os dois também são acusados de corrupção passiva e formação de organização criminosa.
“Verifica-se que Aécio Neves, em articulação, dentre outros, com o
presidente Michel Temer, tem buscado impedir que as investigações da
Lava Jato avancem, seja por meio de medidas legislativas, seja por meio
do controle da indicação de delegados de polícia que conduzirão os
inquéritos”, afirma o procurador no pedido, que foi deferido pelo
ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF.
Janot cita, entre outras evidências, o conhecimento que Temer teria de pagamentos de propina feitos pelo empresário Joesley Batista, dono do grupo JBS, ao ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e ao doleiro Lúcio Funaro.
“O pagamento de propinas, mesmo depois de os mesmos estarem presos,
tem, se não como motivação única, mas certamente principal, garantir o
silêncio deles ou, ao menos, a combinação de versões”, afirma.
O procurador-geral também afirma que Temer usou do cargo para se
beneficiar de vantagens indevidas, como recebimento de dinheiro para
facilitar a tramitação de assuntos do grupo de Joesley no governo
federal. O deputado federal Rodrigo Loures (PMDB-PR),
aliado de Temer, foi flagrado recebendo dinheiro da JBS após ter sido
indicado pelo presidente como seu interlocutor junto ao empresário.
“O deputado federal Ricardo Loures, homem de total confiança de
Michel Temer, aceita e recebe com total naturalidade a oferta de propina
(5% sobre o benefício econômico a ser auferido) feita pelo empresário
Joesley Batista, em troca de interceder a favor do grupo J&F, mais
especificamente em favor da ETE Cuiabá, em processo administrativo que
tramita no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica)”, afirma
Janot.
Temer é acusado por Janot de corrupção passiva, obstrução da Justiça e
atuação em organização criminosa. No pedido de inquérito – que inclui
Aécio e Loures -, o procurador-geral anexa quatro conversas gravadas com
o conhecimento do Ministério Público Federal: com o próprio Temer, no dia 7 de março deste ano; com Loures nos dias 13 e 16 de março; e com Aécio no dia 24 de março.
No pedido Janot relata como Joesley chegou ao Palácio do Jaburu para o
encontro com Temer. Segundo ele, o empresário, que chegou sem ser
anunciado, pela garagem, por volta das 22h30, já conhecia o presidente,
embora não se encontrassem há cerca de dez meses, quando o peemedebista
ainda era vice de Dilma Rousseff (PT).
Na reunião, Joesley reclama que a interlocução com o ex-ministro Geddel Vieira Lima e com o ministro Eliseu Padilha
ficou complicada depois que ambos passaram a ser investigados na Lava
Jato, ao que Temer responde: “É, tem que tomar cuidado, é complicado”.
Ao fim, eles combinam novos encontros no Jaburu no mesmo esquema.
“Fazemos como hoje (…) Funcionou super bem”, diz Temer. “Verdade,
verdade, venho umas dez e meia, conversamos um minutinho, uma meia
horinha e vou embora”, completa Joesley.
Defesa
Temer nega ter cometido qualquer irregularidade na conversa com
Joesley e os crimes atribuídos a ele pelo MPF. Em pronunciamento oficial
feito na TV na quinta-feira, ele disse que não irá renunciar ao cargo
em razão disso. “Não renunciarei. Repito, não renunciarei! Sei o que
fiz e sei da correção dos meus atos. Exijo investigação plena e muito
rápida, para os esclarecimentos ao povo brasileiro”, disse.