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MPF/RJ encaminha pedido de anistia em favor de familiares de operários mortos durante a greve de 88 na CSN


Encaminhamento atende a pedido feito em inquérito civil público pelas famílias dos trabalhadores
O Ministério Público Federal (MPF) em Volta Redonda (RJ) encaminhou ao presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão Pires Junior, requerimento com pedidos de reconhecimento da condição de anistiados políticos dos operários Carlos Augusto Barroso, Walmir de Freitas e Willian Fernandes Leite. O encaminhamento atende a pedido feito em inquérito civil público pelos familiares dos trabalhadores, que foram mortos após invasão do Exército na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em 09 de novembro de 1988.
Os familiares procuraram o MPF neste ano e apresentaram, juntamente com a Comissão da Verdade Municipal Dom Waldyr Calheiros, documentos a respeito dos fatos e notícias da época. Segundo relatório elaborado pela comissão, em 9 de novembro de 1988, diante da resistência do movimento grevista, as tropas do Exército entraram na usina Presidente Vargas e foram reforçadas por comboio de carros de combate, tanques de guerra e caminhões de tropas do Exército, mobilizados pelo Ministério do Exército e pelo Comando Militar do Leste. O ataque teria começado às 18 horas na Vila Santa Cecília, na usina, e durado até a meia-noite de 9 de novembro.
O documento da Comissão da Verdade relata que no primeiro dia de greve, tropas do Exército compostas por cerca de 500 soldados invadiram e ocuparam a usina. No dia 9 de novembro, às 21h30, as tropas teriam recebido ordens para atacar os três mil operários que ocupavam a usina e estavam refugiados na aciaria.

"Trata-se de fatos que geraram comoção e repercussão nacionais, justamente em um contexto de eleições municipais e da promulgação recente da Constituição. Segundo a tese da comissão da verdade, Volta Redonda viveu uma ditadura tardia, com forte influência do Exército nas atividades da Companhia Siderúrgica Nacional e adoção de serviço de informações (ASI) para combater o movimento grevista", afirma o procurador da República Julio José Araujo Junior no ofício encaminhado à comissão de anistia.

Segundo o procurador da República Julio José Araujo Junior, a atuação do MPF no caso não se limita aos encaminhamentos de pedidos de anistia. "É necessário revelar os fatos e garantir reparações financeiras, mas também buscar reparações simbólicas e garantias de não repetição destas violações", afirma.